Uma em cada seis crianças com até seis anos de idade (16%) já teria sido vítima de racismo no Brasil, de acordo com a percepção dos responsáveis por elas. Mais da metade dos casos (54%) teria ocorrido na creche ou na pré-escola.
Apesar disso, 22% da população acha que é raro que este público esteja exposto ao problema, e outros 10% afirmam que não há vítimas nessa faixa etária porque a sociedade brasileira praticamente não é racista.
É o que mostram dados de uma pesquisa Datafolha encomendada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, organização que trabalha no segmento da primeira infância no país. A pesquisa ouviu um total 2.206 pessoas em entrevistas presenciais realizadas em abril de 2025, sendo 822 responsáveis por cuidar de crianças de 0 a 6 anos. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para total da amostra e de 3 pontos percentuais para amostra de responsáveis.
O instituto perguntou aos responsáveis “a criança já foi tratada de forma diferente de outras crianças por causa de sua cor da pele, tipo de cabelo e outras características físicas?”.
O levantamento faz parte de um estudo sobre a primeira infância no país, organizado pela fundação, e mostra como o racismo contra bebês e crianças é percebido. Entre os 132 responsáveis que relataram ter testemunhado situações que consideram racismo contra as crianças, o local mais frequente da ocorrência foi o ambiente escolar (54%) Em seguida estão espaços públicos como ruas, praças ou parques, indicado por 42% desse público, seguido pelo bairro ou vizinhança (20%).
Os relatos são mais frequentes entre os responsáveis pretos ou pardos (19%), ante a parcela de brancos (10%).
Já para a pergunta sobre a exposição de crianças na primeira infância ao racismo, a diferença de escolaridade tem impacto significativo. Com nível superior, são 74% os que concordam com a afirmação de que “O racismo é algo comum e mesmo crianças na primeira infância são vítimas de racismo”, proporção que cai para 53% entre aqueles com ensino fundamental.
A discriminação na fase de 0 a 6 anos de idade compromete o desenvolvimento das crianças e poderá ter efeitos no futuro dessas vidas, segundo a CEO da fundação, Mariana Luz.
Isso porque até 90% da formação do cérebro ocorre nesse período, com competências que serão exigidas pelo resto da vida. E um dos elementos básicos para uma boa formação é a proteção, que tem como opostos abusos e violências, como o racismo.