Localizada na Região Metropolitana de Salvador, Camaçari entrou para o grupo seleto de cidades que podem ter segundo turno nas eleições municipais deste ano. Isso porque o município alcançou a marca de mais de 202 mil eleitores, de acordo com o Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA). A Constituição Federal prevê a possibilidade de segundo turno em regiões com mais de 200 mil eleitores para o cargo de prefeito e, nas eleições gerais, para os postos de governador e presidente da República. O cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Paulo Fábio Dantas Neto, avalia que é possível que só haja segundo turno na cidade nas próximas eleições.

“O eleitor de Camaçari continuará sendo induzido a resolver a eleição logo no primeiro turno, como se não pudesse haver um segundo”, afirma o cientista político.

Paulo Fábio destaca que, com a introdução do segundo turno, os camaçarienses passam a exercer um “poder genuinamente majoritário”. Agora, para vencer a eleição, o candidato a prefeito deve angariar o apoio de mais de 50% dos eleitores. Anteriormente, bastava uma maioria simples dos votos para ser eleito, permitindo que um candidato ganhasse, por exemplo, com apenas 30% dos votos, desde que fosse a opção mais votada. “É um ganho de representatividade que tende a aumentar a diversificação do cardápio eleitoral oferecido aos seus eleitores”, acrescenta.

Ao atingir tal quantitativo, Camaçari se torna a quarta cidade baiana com possibilidade de segundo turno. Além dela, Salvador, que lidera a lista de eleitores com 1,98 milhão, seguida por Feira de Santana, no interior do estado, com 426,55 mil, e Vitória da Conquista, no Sul, com pouco mais de 254 mil cidadãos aptos para exercerem o exercício do voto.

A eleição no município, por enquanto, tem quatro pré-candidatos: Flávio Matos (União Brasil), que tem o apoio do atual prefeito Antonio Elinaldo (União Brasil), o ex-prefeito Luiz Caetano (PT), Oswaldinho Marcolino (MDB) e Cleiton Pereira (Novo). O petista retorna ao jogo eleitoral após ficar oito anos inelegível por decisão judicial. Ele foi condenado, com base na Lei da Ficha Limpa, devido a irregularidades na contratação da Fundação Humanidade Amiga (Fhunami) para a produção de fardamento e mochilas de estudantes da rede municipal de educação.

Histórico

Da redemocratização do País até agora, não houve um padrão contínuo na corrida eleitoral pela prefeitura de Camaçari. A polarização, que passou a ocorrer entre União Brasil (ex-DEM) e o PT na cidade, só teve início com a ascensão do Partido dos Trabalhadores ao governo federal em 2003. A partir deste período, foram três vitórias petistas (2004, 2008 e 2012) e duas do União Brasil, em 2016 e 2020.

“Isso, sim, pode sugerir um ‘padrão’. As eleições deste ano, com o PT de volta a Brasília, são um teste para esse suposto padrão”, pontua Paulo Fábio. O cientista político observa que as vitórias do PT no município ocorreram quando o partido comandava o país, e a sigla deixou de comandar a cidade justamente em 2016 quando a ex-presidente Dilma Rousseff deixou o poder e Michel Temer (MDB) assumiu.

De 1985 a 2000, as eleições no município podem ser divididas em três momentos distintos. Na primeira eleição, o embate aconteceu entre os que apoiavam o regime militar e o campo politicamente heterogêneo de frente democrática. Foi neste ano que Luiz Caetano assumiu a prefeitura da cidade pela primeira vez, pelo MDB. Nas eleições seguintes, em 1988, José Tude (PTB) saiu vencedor.

De 1992 a 2000, a disputa eleitoral se concentrou entre o grupo carlista, sob o comando do PFL, e uma oposição articulada pelo MDB, que venceu em 1992 com Humberto Ellery. Quatro anos depois, Tude retornaria à prefeitura e conseguiria a reeleição em 2000.

Dois fatores podem influenciar nas eleições de Camaçari neste ano, segundo Paulo Fábio: a política estadual e a nacional. Segundo ele, meses atrás, o cenário era favorável a Luiz Caetano, mas a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) colocou um “nuvens nesse céu de brigadeiro”.

No contexto estadual, a situação é favorável ao candidato Flávio Matos, que ainda terá o reforço adicional de ACM Neto, vice-presidente eleito do União Brasil e ex-prefeito de Salvador. “Tudo fica ainda mais complexo quando se constata os percalços do atual governador (Jerônimo Rodrigues) e o desempenho medíocre do seu governo, mostrando dificuldade política prática para a construção, em torno dele, de uma imagem benigna de renovação”, diz Paulo Fábio.

By Laiana

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