A taxa de desemprego do Brasil caiu a 5,2% no trimestre até novembro, após marcar 5,6% nos três meses encerrados em agosto, que servem de base de comparação, apontam dados divulgados nesta terça (30) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com o resultado, o indicador renovou a mínima da série histórica iniciada em 2012, mesmo em um cenário de desaceleração da economia com os juros altos para conter a inflação.
Até a divulgação desta terça, a menor taxa havia sido de 5,4% nos três meses encerrados em outubro deste ano. O IBGE, contudo, evita a comparação direta entre trimestres com meses repetidos, como é o caso dos finalizados em outubro e novembro.
A taxa de 5,2% surpreendeu analistas ao ficar abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 5,4%, conforme a agência Bloomberg.
“O mercado de trabalho está, de fato, aquecido. Tem se mostrado mais resiliente do que a atividade econômica”, afirma o economista Rodolpho Tobler, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
Para o pesquisador, o PIB (Produto Interno Bruto) vem perdendo força de maneira “suave”, apesar de a taxa básica de juros estar em 15% ao ano. Sem movimentos bruscos na atividade econômica, não se espera uma piora substancial nos dados de emprego e renda em 2026, segundo Tobler.
Ele diz que a taxa de desemprego pode ficar entre 6% e 6,5% ao longo do próximo ano, o que ainda é um nível baixo para os padrões históricos do Brasil. “É difícil imaginar que o mercado de trabalho vá piorar muito.”
Os dados do IBGE integram a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). O levantamento investiga tanto o mercado de trabalho formal quanto o informal.
NÚMERO DE DESEMPREGADOS TAMBÉM ATINGE MÍNIMA
No trimestre até novembro, o instituto encontrou 5,6 milhões de pessoas de 14 anos ou mais em busca de trabalho. É o menor número de desempregados já registrado na série. Houve redução de 441 mil ante o intervalo até agosto.
Ao longo da Pnad, o maior contingente de desocupados ocorreu no trimestre até março de 2021, na pandemia de Covid-19. À época, o indicador chegou a quase 15 milhões.
POPULAÇÃO COM TRABALHO BATE RECORDE
O menor desemprego da série foi acompanhado por um novo recorde do número de pessoas ocupadas com algum tipo de trabalho: 103 milhões. Houve acréscimo de 601 mil ante o trimestre até agosto.
Com isso, o nível de ocupação também renovou o maior patamar da série: 59%. Trata-se da proporção de pessoas de 14 anos ou mais que estavam trabalhando.
A coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do IBGE, Adriana Beringuy, disse que o mercado de trabalho tem mostrado capacidade de retenção da mão de obra em “nível muito satisfatório”.
Segundo ela, isso contribui para reduzir a busca por emprego. “A gente pode afirmar que o ano de 2025 foi bastante satisfatório, porque o mercado de trabalho conseguiu assegurar, ou manter, os seus ganhos cumulativos.”
O IBGE evita fazer projeções para os dados, mas Adriana reconheceu em entrevista que é possível que a taxa de desemprego fique abaixo de 5% no último trimestre de 2025.
A população fora da força, que não está trabalhando nem à procura de vagas, foi estimada em quase 66 milhões até novembro. Houve alta de 176 mil ante o trimestre encerrado em agosto.
A saída de brasileiros da força contribui para o desemprego não ser pressionado. Isso porque uma pessoa sem trabalho também precisa estar em busca de oportunidades para ser considerada desocupada.
GRUPO QUE INCLUI EDUCAÇÃO E SAÚDE PUXA OCUPAÇÃO
Entre os setores, a maior alta no número de trabalhadores ocupados veio do grupamento que inclui administração pública, educação e saúde.
Em relação aos três meses imediatamente anteriores, a população ocupada nesse ramo teve acréscimo de 492 mil pessoas até novembro.
Houve impacto de questões como a renovação de contratos na área de educação, conforme o IBGE.
Rodolpho Tobler, do FGV Ibre, diz que a “demanda reprimida” por concursos e o aumento de gastos de estados e municípios podem estar por trás de admissões temporárias no setor público.
Em termos absolutos, a construção teve a segunda maior ampliação do número de ocupados até novembro (+135 mil).
Já o grupamento que inclui o comércio teve um desempenho mais tímido (+34 mil), mesmo com a movimentação da Black Friday.
A indústria, por sua vez, teve fechamento de vagas (-32 mil). Fábricas e lojas são influenciadas pelos juros altos.
“Como a administração pública é menos sensível ao ciclo econômico, essa melhora do emprego não deve ser interpretada como um sinal de que a política monetária não esteja funcionando. Pelo contrário, os setores mais sensíveis à taxa de juros seguem sem apresentar dinâmica de aceleração do emprego”, afirmou André Valério, economista sênior do banco Inter.
“Ainda assim, o quadro geral do mercado de trabalho permanece bastante positivo”, acrescentou.
Conforme o IBGE, o número de empregados com carteira assinada no setor privado bateu recorde até novembro (39,4 milhões).
Outras máximas foram registradas pelos empregados no setor público (13,1 milhões) e pelos trabalhadores por conta própria (26 milhões).
RENDA RENOVA RECORDE
Em média, a renda real habitual de todos os trabalhos alcançou R$ 3.574 por mês no trimestre até novembro. É mais um recorde da Pnad.
O rendimento subiu 1,8% ante o trimestre encerrado em agosto (R$ 3.509). Em um ano, avançou 4,5%, já que estava em R$ 3.420 até novembro de 2024.
A economista Claudia Moreno, do C6 Bank, diz que o mercado de trabalho continuará “forte” até o fim do ano que vem. Segundo ela, a taxa de desemprego deve terminar 2025 e 2026 abaixo de 6%.
“Um mercado de trabalho sólido ajuda a sustentar a atividade econômica, o que é positivo para o país. Por outro lado, esse cenário traz desafios para o controle da inflação, principalmente no setor de serviços”, afirma.
De acordo com Claudia, os dados da Pnad reforçam a expectativa de manutenção da taxa básica de juros em 15% na reunião de janeiro do Copom, o Comitê de Política Monetária do BC (Banco Central).
“Acreditamos que o ciclo de cortes deve começar em março, com os juros chegando a 13% no fim de 2026”, afirma.
Os indicadores de emprego e renda vêm em uma trajetória de recuperação no país após a pandemia. Segundo analistas, o movimento refletiu uma combinação de fatores.
A lista inclui o desempenho aquecido da economia em meio a medidas de estímulo do governo federal, além das mudanças demográficas com o envelhecimento da população e dos impactos da tecnologia na geração de vagas.
No trimestre até novembro, a taxa de informalidade foi de 37,7%. Isso representa um recuo ante o período até agosto (38%), embora o patamar siga próximo de 40%.
Ao longo da série histórica, os informais chegaram a representar 41,1% da mão de obra no trimestre até agosto de 2019. É o recorde da série.
Taxas de informalidade menores do que a mais recente (37,7%) só foram observadas em 2020. À época, a pandemia expulsou do mercado principalmente os profissionais sem registro.
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TIRE SUAS DÚVIDAS SOBRE DESEMPREGO
O que é desemprego?
Segundo o IBGE, o desemprego se refere às pessoas de 14 anos ou mais que não estão trabalhando, mas que estão disponíveis e tentam encontrar trabalho.
Para alguém ser considerado desempregado, não basta não possuir um emprego. É preciso que essa pessoa também procure oportunidades.
Como funciona a Pnad Contínua?
É o principal instrumento para monitorar a força de trabalho do país. Conforme o IBGE, sua amostra corresponde a 211 mil domicílios, em todos os estados e no DF, que são visitados a cada trimestre. Cerca de 2.000 entrevistadores trabalham na coleta da pesquisa.
Como é medida a taxa de desemprego?
É o percentual da força de trabalho formado pelas pessoas que estão desempregadas.
A força de trabalho é composta pelos desempregados e pelos ocupados. Os ocupados, por sua vez, são aqueles que estão trabalhando de modo formal ou informal —ou seja, com ou sem carteira ou CNPJ.
O que explica o desemprego baixo?
Segundo economistas, ele se explica principalmente por um mercado de trabalho aquecido, reflexo de contratações nos setores privado e público. Mudanças demográficas e tecnológicas também contribuem para uma taxa baixa.
Isso é uma boa notícia?
O desemprego baixo indica um cenário positivo para os trabalhadores.
Que efeito o desemprego baixo pode ter na economia?
Com mais pessoas trabalhando, o consumo tende a crescer, já que a população tem mais renda disponível. Por outro lado, isso pode pressionar a inflação, já que aumenta a demanda por bens e serviços.
Assim, o BC (Banco Central) levou a taxa básica de juros para 15% ao ano. A medida busca esfriar o consumo para conter a alta dos preços.
